sábado, junho 02, 2012

Sertão dos Pequeninos

    Eterno Pai, por Tu que estás em cada planta que morre, em todo riacho que seca, fazei crescer nuvens no céu do Sertão!
    Bondoso Deus, Tu que és a Verdade, e estás em todos os pequenos, como podereis não estar em cada bicho morto, de costelas quase expostas por entre um couro seco? Como podereis não estar em cada bicho que quase morre, de sangue seco escaldante e olhos baixos que se rendem, como se estivessem vencidos, como se já estivessem mortos e a vida fosse só um gota d'água que se evapora? Por Tu mesmo, que estás neles, escurecei as nuvens do Sertão!
    Divina Luz, que se fez carne e habitou entre nós, lembra-te da dor que sentistes, de todas as vezes que tivestes fome! Como podereis Tu não estar em todos os homens, nas mulheres, nas crianças, que sobrevivem - sim, graças também a Ti - mas que choram todas as noites? O milho está seco, água clara faz tempo não se vê... Por Tu mesmo, que estás nesses homens, fazei com que chorem também as nuvens!
    E dessa água que cai por amor, somente amor, frutifique a terra, renasçam bichos, plantas e homens novos. Que dos rios, pelo mesmo amor renascidos, possam morrer também as águas, vaporizadas, para que, feito nuvens, possam morrer de novo... Por amor, somente amor, tua assinatura na Terra, escrita por entre os homens, mulheres e crianças, que choram e que hoje te pedem: fazei chover no Sertão dos pequeninos!
   

ANÁLISE SOBRE UMA IMAGEM

http://oblognovodegustavo.blogspot.com.br/2012/06/imagem-de-cecilia.html<<<< eis o link.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Cheia de Graça, o Senhor é convosco!

 
   - Silêncio, que o mundo grita lá fora.
   - Silêncio, que o coração é uma capela de milhares de tímpanos.

domingo, janeiro 15, 2012

De par em par



Árvores paradas da quinta, vistas da janela,
Árvores estranhas a mim a um ponto inconcebível à consciência de as estar vendo,
Árvores iguais todas a não serem mais que eu vê-las,
Não poder eu fazer qualquer coisa gênero haver árvores que deixasse de doer,
Não poder eu coexistir para o lado de lá com estar-vos vendo do lado de cá.
E poder levantar-me desta poltrona deixando os sonhos no chão...

  É a quarta estrofe do primeiro poema de um livro recém recebido. É a Casa Branca Nau Preta, de Álvaro de Campos, bonita face de Pessoa.
  Estou lendo. Por isso me calo.
  Quais as naus que me carregam eu não sei. Tampouco estas naus sabem que me carregam. Estamos os dois em um não-saber de um carregar e ser carregado...
  Mas as árvores são paradas, e Aracaju está sem vento. Arvores estranhas. Estranho querer correr para os quereres corridos. E poder levantar-me desta poltrona deixando os sonhos no chão... 
  Mas há uma voz que diz: guarde-os nos bolsos. Retire-os de par em par, veja-os de frente, na altura dos olhos. Se ainda forem sonhos, se ainda forem seus, então corra, e os queira como se te quisessem também os sonhos.
  Mas o mesmo torpor desconexo, angustia dos loucos. E o Álvaro de Campos, da casa branca nau preta.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

I thought that I heard you laughing

 
   Fotografia velha, amarelada; mas o filme é novo.
   Um balançado meio brega. Hipnotizante.
   Pior trilha sonora do melhor dos sonhos. Quando passa eu esqueço.
   Excesso e falta barulhentos como os saltos altos em alternância.
   Distância nos olhos, pensei ter te visto rindo.