quinta-feira, junho 30, 2011

E POR FALAR EM DRUMMOND


Dia desses perguntaram-me: “Se pudesse ser qualquer pessoa, viva ou morta, quem seria?” E eu respondi. Não digo que foi no calor do momento porque estava chovendo e aqui no Nordeste quando chove as pessoas sentem frio. Também não foi nenhuma surpresa, dado a freqüência com que perguntas desse tipo são feitas... Surpreendeu-me a minha resposta!

Quem eu queria ser? Muito fácil! Eu queria ser aquele moleque frustrado com o sorvete de abacaxi, que mais parecia uma sombra gelada de qualquer outra fruta que havia sido madura a mais ou menos três anos atrás.

Eu seria aquele moço meio torto, quase morto, o gauche da vida. E então teria pedras no meio dos caminhos, Josés para se perguntar as horas, ou simplesmente dizer: “E agora?”. Teria um coração tão grande quanto o mundo ou seria eu Raimundos sem solução!

Poderia então escrever “Moça, flor, email” e nunca ser tão óbvio ou finitamente preso, em finais de ponto e vírgula. Se pudesse ser, quem eu seria? O Carlos. Não precisava nem ser Drummond de Andrade.

E pensando bem, eu já sou gauche, sou meio torto, sou quase morto, mas sou Gustavo. Será que precisa ser Nunes Monteiro?

segunda-feira, junho 27, 2011

LIBERDADE E OUTROS VÍCIOS


Desconfio de que esteja reforçando o meu lado subjetivo a cada letra que por aqui se escreve. Desconfio também de que quebro assim todas as regras ou diretrizes que supostamente eu deveria seguir; livros dizem: “Objetividade é essencial” – mas está longe de ser essência.

Acostumei-me eu a ser fragrância, desconsiderando todos os elementos químicos que meticulosamente deveriam ser combinados. Perfumes feitos fedem. E também fedem os seres humanos, burgueses ou não. Apenas fui sendo fragrância pela livre intuição, essencialmente subjetiva e quase enigmática – eufemismo para quase nunca entendida.

Desconsiderei, portanto, que assim como o poder deve ser controlado pelo poder, a liberdade deve ser controlada por aquilo que é verdadeiramente livre: a própria liberdade, dom do Espírito, e só ela. Sou livre para mentir pensamentos, mas não posso deixar de assim proclamá-los. Eu minto verdadeiramente, depois minto que não era verdade, para depois mentir que me esqueci das mentiras e das verdades inteiras.

E os sentimentos, as idéias e as pessoas são passíveis de recriação, que também é uma forma de mentira. Criar, recriar, mentir, descobrir é ser livre. E objetividade ou subjetividade é uma questão dicotômica demais para toda essa liberdade que agora percebo. E eu confesso que detesto a falsa simplicidade das coisas dicotômicas ou a bipolaridade das pessoas simplistas – que melhor seriam descritas se fossem descobertas todas as suas inseguranças, que nada mais são do que suspiros sem liberdade.

Penso que o que falo pouco ou muito pouco é de interesse geral da nação, mas acho que tanto a insegurança das pessoas quanto as questões – só – dialéticas são apenas formas de controlar o incontrolável: os possíveis desdobramentos, também chamados de conseqüências ou bilhetes do destino. Os bilhetes, as pessoas e os pensamentos devem ser livres, por essência.

E a essência livre é o mais puro dos perfumes.

segunda-feira, junho 06, 2011

MEUS DIAS LINDOS (Porque Drummond, filho de uma mãe, já escreveu os dias lindos sem possessividade)



Tem dias que eu acordo e vejo notas musicais penduradas nas núvens. São dias realmentente muito lindos! É como se todos os olhares fossem metade bom dia, metade tranquilidade. E o remelexo quase bruto do ônibus, uma dança cósmica de batimentos cardíacos propagados pelos sete universos. As mãos que me pedem esmola parecem plumas, e quase dá para sentir o sorriso dos dedos para cada centavo que tilinta quando é fortemente agarrado.

É nesses dias que as piadas são absurdamente engraçadas – E mesmo as coisas mais sérias. É quando o riso não é transgressor, nem progressista, porque antes de ser riso é sorriso, identificação, juventude. Nos dias de notas musicais fáceis, a identidade é tão completa que nem a dúvida duvida. E os pássaros também cantam sorte em todos os fios elétricos da cidade. E se chove é uma sinfonia sintonizada de pessoas que compartilham guarda-chuvas.

Mas, se me pergunta, no fim desses dias o que eu ganho? Sono, oras! Dias lindos não se acumulam. E só são lindos porque passam, quase que simplesmente...