terça-feira, novembro 29, 2011

Respirar, navegar: é coisíssima igual


  O mundo é bão, Sebastião! E a vida é linda, menina!
  Desculpem vocês: às vezes eu fico meio chato, fico meio mole. Mas aí eu escuto uma música bonita, corro corro de um assalto e, pimpa. Pronto!
  O verde fica mais verde, a árvore cria uns galhos, umas raízes, e a gente faz um filme. Aí balança um pouco, como uns bebês crescidos, num balanço de parque.
  Se te caem os livros, empilhe-os. Faça uma muralha e brinque de guerra de papeis higiênicos - limpos.
  Se te caem os dias, faça um mês ou dois; de puro riso.
  Em quais trincheiras te escondes, menina? A vida é linda!

domingo, novembro 27, 2011

Querida, está tudo tão azul!


Imprevisibilidade, precipitação.
músculos, rígidos, doem.
De sono acordado estou eu.
Subo escadas, pulo cercas;
carneiros se perdem...

Imprevisibilidade, precipitação.
É tudo tão lindo:
É tranquila a incerteza;
e o depois que vem de ontem...
e o não sei dito em já sabia.

Eu vejo os meus erros.
Já conheço os meus passos.

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sábado, novembro 26, 2011

CONVERSA COM O QUINTANA


— Me explica, havia um ponto de luz em algum lugar...
— É que "todo ponto de vista é a vista de um ponto".
— Me explica, que luz é essa que está em todo canto, em todo ponto de sorriso?
— O que você acha que é? "As definições apenas definem os definidores".
— As coisas são o que são: a luz é luz, eu sou eu. Ou será que não?
— "Nada neste muito é, por si, feio".
— Agora você me agride! Que é isso, camarada?
— Não ainda, mas "quem sabe um dia?"
— Ai meu Deus!
— "Em meio ao turbilhão do mundo, o poeta reza sem fé"
— E agora você me agride, depois me elogia, me chama de poeta? Só de digo uma coisa: se decida, que o mundo é grande e o tempo é curto.
— Que nada, eu sigo a máxima: "Se te contradisseste e acusam-te... sorri. Pois nada houve, em realidade. Teu pensamento é que chegou, por si, ao outro polo da verdade."
— Velhinho louco, você, hein? Mas tu é gente fina!

domingo, novembro 20, 2011

menor menor menor menor menor menor

 
  Procuro o vazio para me sentir grande, esvazio-me. Procuro a completude, sinto-me então pequeno. E de pequeno, sinto-me grande, sinto-me muitos, sinto-me.
   Só quero lembrar de me querer pequeno - a memória fraqueja e os joelhos doem.
   Doem-me os joelhos e eu me esqueço que dor é pequenez. Mas só me doem os joelhos, na mente eu sigo tranquilo. Então dói-me não doer. De esquecer esqueço-me: quando vi já fui sem vale, sem volante, sem violão.
  Escrevo frases curtas, tão longas quanto os meus tempos de lembrança e esquecimento.
   Encurto-me. E sou pequeno de novo.
   E sou-me só, mas sou tantos, conectados todos por fios de vida. Sou. Com vários pontos, que muito bem poderiam ser vírgulas. E os fios de outro - ora ao sol, ora à minha sombra - fazem-se mais vivos, então fazem-me enorme, depois apenas me fazem.


sexta-feira, novembro 18, 2011

MOÇA

 
   De longe ela vinha com uma calma angelical. Passos curtos, andar desconsertado.
   De longe e em um enquadramento perfeito: de um lado faixas, muitas faixas, de aprovações e propagandas; do outro carros, muitos carros, de pressa e movimento.
   A calçada se desenhava sob os seus pés. E onde as duas linhas de paralelepípedos quase se tocavam estava ela - quase parada, quase em movimento. A cor do dia parecia não importar, ao barulho dos carros também era indiferente. Apenas as faixas brancas enfileiradas nas paredes detinham os seus olhos baixos, meio tristes.
   Seus pensamentos não pude ouvir, suas palavras não foram ditas. Apenas os olhos falavam às faixas. Apenas aos olhos ouvi; muito como se não quisesse, meio de passagem, meio querendo sem querer.
   E os olhos, de um brilho sagrado, alegravam-se e frustravam-se simultaneamente. Diziam entre si e para as faixas: "por que não eu?","por que não agora?", "parabéns você!", "parabéns agora!"
   E nesta indecisão dos olhos, os lábios me viram e disseram bom dia, depois disseram sorriso, depois se foram; e os dois andantes deram as costas. Só então eu vi a cor do dia, a cor dos carros, a brancura muda das faixas (nos muros e nas músicas-de-bolso).
    É muito mais fácil observar as coisas que não andam de auréola e chinelos. 
   

quinta-feira, novembro 17, 2011

Porque ela é it

 
    Que você arquitete bem as suas conquistas e construa com base firme todos os seus sonhos - mesmo que,  por lei, eles só tenham dois andares.
    Vá sempre mais além, até o infinito se for preciso, para manter a calma e a felicidade (esta última só se conquista com prudência e entendimento); que o seu dia-a-dia tenha mais sal e açúcar.
    E não tenha medo de, quando precisar de um Alento, trocar a ordem das velhas árvores (elas não alteram os passarinhos que sabem voar alto).
    Fico aqui pensando que às vezes o tempo passa tão rápido, que é igual a um G-6 (Isso é bom para quem tem pressa). Que você tenha pressa de ser feliz e de lutar pelo que é certo e pelo que é seu por direito. E que você sempre tenha a certeza de que vai existir alguém que torce por você, e de que essa torcida é maior que qualquer fronteira, de qualquer estado ou região.
    A miliano eu queria te dizer isso: Someone Like You não existe. Você é única para mim e para todos que te conhecem. Não tem Paulo Mendes da Rocha que chegue no cheiro do rastro do seu cadarço. 
    Feliz aniversário, fran! Do seu primo que te ama muito.
     

domingo, novembro 13, 2011

AI QUE SAUDADE DO CÉU


  Olho-me no espelho e as bochechas secas de insônia me dizem feiuras impronunciáveis.
  Abro a janela, olho-me então no dia. E o sol do leste faz o verde mais verde, o canto mais canto, e a vida mais música.
  Não há espelho, bochechas ou feiura; só há céu, sol, sal e mar. E o velho sorriso que vem de brinde...

IS IT A DATE?


  Me diz o que é o fim do mundo e eu te digo o que é a vontade.
  E então você me diz que o fim do mundo é um lampejo. Que os olhos correm, mas que não dá tempo; e que a vida se vai assim como se fez.
  E eu digo que dá vontade de finalizar tudo. De em um lampejo ter-se tempo de ver os teus e os meus olhos, e que a vida se cria, assim como sorri todo dia para os que sabem aproveitar.

terça-feira, novembro 08, 2011

ÁGUAS-VIVAS DE OUTUBRO

   
   Apesar dos sorrisos, dos olhares retos e dos pensamentos tortos, eles estavam sós. Não havia completude, abraçavam-se os vazios. E o sol que entrava pela janela enquanto ela desenhava linhas curvas na parede próxima ao seu rosto.
   O sol entrava e brilhavam pequenos flocos de poeira. Se eram células livres dos corpos, ou águas-vivas que boiavam no vento de suor e silêncio, pouco importava para os dois.
   Ele olhava as sombras das nuvens na parede oposta, com uma calma de quem padece. Uma mão na cintura dela e outra no próprio peito. Podiam-se fazer melodias de assovio: o sol entrava pintando a parede de amarelo. Estavam amarelos os dentes, os corpos, a cama de solteiro. Amarelo estava o dia. 
    E as almas sós pintavam-se de carinho. De repente olhares tortos, pensamentos retos, sorrisos tímidos, cama grande demais.

sábado, novembro 05, 2011

Uma árvore, talvez pequena

 
   Quero conhecer os meus frutos para vir a conhecer a minha árvore. Será que dou frutos doentes que parecem doces? Ou será que são os meus frutos bons que parecem amargos demais? Será que são relativas também as papilas gustativas?
   Se o parecer é um perecer, o que é, enfim? E se o perecer é um frutificar, como frutificar e permanecer? Quem sabe meus frutos tantos sejam mesmo muitos - doces e amargos, doentes ou maduros. Sinto-me mais como a formiga do que como a árvore que sou. E eu me arrasto, engatinhando com seis pernas, sob um tronco onde meus olhos de inseto não vêem onde termina nem por onde começa. E como formiga eu carrego as folhas, meço as palavras, em um contentar-se mais que contente (há uma felicidade grande em fazer o que é preciso, enquanto se nutre a seiva).
   E engatinhar, nutrir e preparar enquanto é possível. É passivo mesmo o ser do tempo.

quinta-feira, novembro 03, 2011

NÃO ME APAREÇAS, MORENA!

 
   Te encontrei lendo um livro de filosofia. Tu tava lá bem escrita, bem na linha, bem cheia de vírgulas, como sempre, claro. Tão você que eu li mais depressa, como quando eu faço se o assunto é de interesse. Tu tava lá e eu aqui, como sempre. Quase desfiz minhas juras, quase refiz elas todas. Foi quase!
   Não me aparece mais assim, sério! 
   Na verdade fui eu que te procurei, como sempre. Mas mesmo assim, não me apareça. Vê se foge, pula o parágrafo, que é difícil pular a vista.
   Deus sabe o quanto eu te quis, morena. Vai ver foi Ele que não queria! Ou vai ver foi você, mas tanto faz agora. 
   E agora quem sabe, quem soube, quem não sei.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Jaculátoria do meio-dia e da meia-vida

  
  Tenho ido e vindo sempre. E cada vez volto com mais uma ruga. Meu senhor Deus, que  eu entenda o que é a Tua vontade, e que de cada ruga do meu espírito brilhe um reflexo do Teu amor. Que eu seja Teu instrumento diário. Que eu seja vigilante dormindo ou acordado, de noite ou de dia, em todo e qualquer lugar. 
  Pai, me faz experimentar toda a sua grandeza. Faz com que eu enxergue a Tua vontade mesmo no que me custa sofrimento. Que eu enxergue a Tua felicidade em toda ferida. 
  Olha-me com bondade mesmo quando eu parto, mesmo quando eu Te esqueço, mesmo quando faço sofrer o irmão, que também és Tu. Perdoa todo o sofrimento que Te causo. Perdoa toda fraqueza, toda lágrima e todo sorriso.
  Eterno Pai, enche-me de Teu espírito! Que meus olhos Te comuniquem e me sorriso Te anuncie. Quero ser tão santo quanto Tu fostes enquanto carne. Dá-me a graça de imitar-Te. Que eu queira o que Tu queres sorrindo. E sorrindo, que eu queira o que queres Tu.