segunda-feira, junho 27, 2011

LIBERDADE E OUTROS VÍCIOS


Desconfio de que esteja reforçando o meu lado subjetivo a cada letra que por aqui se escreve. Desconfio também de que quebro assim todas as regras ou diretrizes que supostamente eu deveria seguir; livros dizem: “Objetividade é essencial” – mas está longe de ser essência.

Acostumei-me eu a ser fragrância, desconsiderando todos os elementos químicos que meticulosamente deveriam ser combinados. Perfumes feitos fedem. E também fedem os seres humanos, burgueses ou não. Apenas fui sendo fragrância pela livre intuição, essencialmente subjetiva e quase enigmática – eufemismo para quase nunca entendida.

Desconsiderei, portanto, que assim como o poder deve ser controlado pelo poder, a liberdade deve ser controlada por aquilo que é verdadeiramente livre: a própria liberdade, dom do Espírito, e só ela. Sou livre para mentir pensamentos, mas não posso deixar de assim proclamá-los. Eu minto verdadeiramente, depois minto que não era verdade, para depois mentir que me esqueci das mentiras e das verdades inteiras.

E os sentimentos, as idéias e as pessoas são passíveis de recriação, que também é uma forma de mentira. Criar, recriar, mentir, descobrir é ser livre. E objetividade ou subjetividade é uma questão dicotômica demais para toda essa liberdade que agora percebo. E eu confesso que detesto a falsa simplicidade das coisas dicotômicas ou a bipolaridade das pessoas simplistas – que melhor seriam descritas se fossem descobertas todas as suas inseguranças, que nada mais são do que suspiros sem liberdade.

Penso que o que falo pouco ou muito pouco é de interesse geral da nação, mas acho que tanto a insegurança das pessoas quanto as questões – só – dialéticas são apenas formas de controlar o incontrolável: os possíveis desdobramentos, também chamados de conseqüências ou bilhetes do destino. Os bilhetes, as pessoas e os pensamentos devem ser livres, por essência.

E a essência livre é o mais puro dos perfumes.

3 comentários:

Anônimo disse...

Em momentos como este, afirmo e reafirmo o que já disse e revelei inclusive no twitter. É, inclusive, uma das poucas coisas referentes a seres humanos que afirmo sem insegurança ou qualquer caráter dicotômico. É de fato subjetivo, eu sei, e não é tão simples quanto parece. Mas é fato: você tem o dever, não mais o direito, de mostrar ao mundo sua literatura.

Sua busca existencial é inexplicável. Sempre foi, e por mais que seja repetitivo eu terei de dizer. A essência de sua poesia está em algo tão profundo que, por incrível que pareça, raramente foi alcançado. Seu amor pelas coisas mínimas, pelos detalhes, pelo não dito faz de você desde uns 2 anos atrás, digamos, o melhor escritor vivo que já li e leio. Não vejo diferença alguma entre sua prosa poética e a sensibilidade de Werther, descrita por Goethe. E se orgulhe muito, mano velho, porque Goethe é Goethe!

Aquele abraço de seu irmão, seu (melhor)amigo (modesto todo, eu HAHAHA), seu fã!

Wesley Gonçalves disse...

Gostei da frase “Objetividade é essencial” – mas está longe de ser essência.

Glückwünsche!

Iago disse...

Bem, Gustavo,

Como você sabe, sou um grande admirador de seus textos. Porém essa é a primeira vez que comento em seu blog - e faço-o no texto mais profundo e contundente dentre os que aqui estão presentes.

O texto é denso, entretanto demonstra um olhar aguçado sobre os "outros cheiros que compõem a fragância", a essência do ser humano. É tão poético e lindo como poucos conseguem fazê-lo.

Parabenizo-o veementemente.

Abração, companheiro.