quarta-feira, setembro 29, 2010

Mudança


Os pedaços de saudade como vidro quebrado, os riscos na parede, os adesivos na fechadura, a janela emperrada, o cheiro forte de sol quente: Coloque todos na caixa usada de eletrodoméstico.
Fotografe os cantos limpos, guarde os cantos sujos e escuros na memória. Ache antigas cartas de amizade indefinida, antigas desculpas, velhas recomendações de namoro à distância de distantes anos.
Mas não, não se esqueça das músicas... Leve-as consigo, se possível, no bolso da camisa no lado do pulmão esquerdo. Viva as antigas músicas como filme preferido que de repente passa na sessão da tarde em véspera de prova de física com todas as suas pilhas de assuntos acumulados. Lembre-se das pessoas. Leve algumas junto com as músicas; para as outras, naturalmente, existe o saco plástico azul. Mas guarde, até mesmo estas, no lugar que lhe sobrar da memória.
Conte mais uma vez os degraus dos nove andares, ritualmente como fez em outros tempos. Torça para que chova! E só então mude. Mude-se. Mudo. Quase telepático.(..)

2 comentários:

Anônimo disse...

Po, velho! Lindo texto! Lindo, mesmo! Como quase todos que saem de suas mãos.

Sentirei falta de sua presença mensal a olhos vistos de poucas horas, assinada com um riso do 'vou indo aí' e um velho abraço.

- Qual o seu nome?
- Caio.
- Caio de quê?
- Caio Monteiro.
- Monteiro Lobato?

Tão grande quanto. Ou mais. Monteiro Lobato nunca foi um dos meus melhores amigos. Você sempre será.

Abração!

kelly disse...

adorei como transmitiu a beleza das coisas simples da vida... as quais são as que realmente valem a pena ter vivido

fiquei curiosa pra saber qual foi o filme, hehe