sexta-feira, novembro 18, 2011

MOÇA

 
   De longe ela vinha com uma calma angelical. Passos curtos, andar desconsertado.
   De longe e em um enquadramento perfeito: de um lado faixas, muitas faixas, de aprovações e propagandas; do outro carros, muitos carros, de pressa e movimento.
   A calçada se desenhava sob os seus pés. E onde as duas linhas de paralelepípedos quase se tocavam estava ela - quase parada, quase em movimento. A cor do dia parecia não importar, ao barulho dos carros também era indiferente. Apenas as faixas brancas enfileiradas nas paredes detinham os seus olhos baixos, meio tristes.
   Seus pensamentos não pude ouvir, suas palavras não foram ditas. Apenas os olhos falavam às faixas. Apenas aos olhos ouvi; muito como se não quisesse, meio de passagem, meio querendo sem querer.
   E os olhos, de um brilho sagrado, alegravam-se e frustravam-se simultaneamente. Diziam entre si e para as faixas: "por que não eu?","por que não agora?", "parabéns você!", "parabéns agora!"
   E nesta indecisão dos olhos, os lábios me viram e disseram bom dia, depois disseram sorriso, depois se foram; e os dois andantes deram as costas. Só então eu vi a cor do dia, a cor dos carros, a brancura muda das faixas (nos muros e nas músicas-de-bolso).
    É muito mais fácil observar as coisas que não andam de auréola e chinelos. 
   

2 comentários:

Fran Monteiro disse...

Ahh que lindo! E esse é um dos mais, só não ganha do Pq ela é it! fato, não posso mentir né rs.

Anônimo disse...

Ah, velho, que sutileza poética! Eu tento vir aqui e não soltar elogios, mas vc não deixa. Você é duro, José!

Lembrei-me de um dia em que uma menina sorriu para mim no ônibus. Era tão linda que me desconsertou completamente. Tentei escrever sobre ela, mas nem consegui. E se conseguisse, não chegaria a 1 décimo do que acabo de ler.

Parabéns, irmão. De novo! xD

abração